Tenho
acompanhado as preocupações dos Pais e Encarregados de Educação dos alunos da
freguesia de Figueira de Lorvão, com as quais, aliás, não poderia estar mais de
acordo.
Quando os
responsáveis politicos locais e nacionais propalam aos sete ventos medidas
avulsas e inconsequentes de incentivo à natailidade e à fixação de pessoas nos
seus locais de origem, estes factos mostram bem como essa intenção não passa de
mera retórica politica.
A fixação das
pessoas, mais do que dar uns euros para a compra de uns livros, passa,
sobretudo por criar condições globais de bem-estar onde os pais, as crianças e
os cidadãos em geral sintam a sensação de conforto e de segurança e sintam a verdadeira qualidade das instituições.
Neste caso concreto, a colocação de mais um professor numa escola de uma
freguesia que tem sabido ao longo dos anos manter uma população escolar
estável, não é apenas um ato de justiça, mas é, isso sim, um imperativo
pedagógico e social que alguém terá de resolver.
Mas o problema
de fundo não é a escola de Figueira de Lorvão. Trata-se de reequacinar a
politica de investimentos na área educativa, onde as Autarquias têm agora a primeira
responsabilidade. Em matéria educativa, o Ministério da Educação limita-se pouco
mais (e mesmo assim mal) do que a colocar os professores. Tudo o resto é politica municipal.
Vejamos o
panorama das três escolas mais faladas:
Escola
|
Nº
de Alunos
|
N.º
de Professores
|
N.º
de salas
|
Investimento
|
Figueira
de Lorvão
|
86
|
4
|
4
|
Reduzido
|
Aveleira
|
44
|
3
|
2
|
Reduzido
|
Lorvão
|
23
|
2
|
4
|
1.181.777,53 de euros
|
Atente-se bem na
disparidade destes números em localidades que distam entre si apenas meia dúzia de quilómetros. Em Lorvão 2
docentes para 23 alunos, em Figueira 4 docentes para 86 alunos.
E
no investimento, vale a pena recordar a nota da Autarquia
“A
obra em causa que se cifra no valor de 1.181.777,53 euros IVA à taxa legal em
vigor foi abandonada pelo empreiteiro em julho de 2012, encontrando-se a
decorrer negociações para que a empresa regresse à obra e a conclua em tempo
útil.....O investimento do município no programa de requalificação das
antigas instalações escolares é visto no quadro de desenvolvimento local e de
consolidação do sistema urbano, como um contributo fundamental no
desenvolvimento social, cultural e económico de Penacova. O novo edifício da
EB1 de Lorvão contribuirá para uma melhor qualidade do ensino no município. Com capacidade para 100 crianças, a obra
conta com uma área de construção de 1276 m2 e, para além das crianças de
Lorvão, este novo centro acolherá também as de São Mamede e de Chelo.”
Claro que os
alunos de Lorvão não têm qualquer culpa, aliás, têm sido muito pacientes ao
longo dos últimos anos com aulas nas instalações do antigo HPL, em salas de
reduzida dimensão. Alguns viram mesmo começar as obras da escola nova quando
iniciaram o 1.º ano e concerteza terminam o 4.º ano sem terem o privilégio de a
inaugurar.
Perante esta
realidade, espero bem que os Pais destes alunos consigam os seus objetivos de
curto prazo, mas desejo, sobretudo, que não baixem os braços e que lutem por
uma politica consequente e realista, que lhes permita, num futuro próximo, ter
também uma escola de qualidade superior.
Se assim for, valeu a pena.
António Simões
Pela sua atualidade, ainda que
desatualizado no número de alunos, republico a seguir o texto que publiquei em
2011, no então Jornal Nova esperança.
MAIS VALE
PREVENIR
Normalmente
ocupo este espaço, com temas relacionados com a protecção civil e, apenas em
circunstâncias excepcionais, tenho emitido opinião pública sobre quaisquer
outros assuntos.
Ao
retomar os meus escritos, após um pequeno interregno, não posso deixar de
abordar a construção dos novos Centros Escolares na Freguesia de Lorvão, questão
que está hoje um pouco na ordem do dia.
Em 2008, a tutela aprovou a
candidatura, apresentada pela Câmara Municipal, para dois centros escolares a
construir na freguesia em Lorvão, um na Sede de Freguesia e um outro, na
localidade de Aveleira, com um investimento global de dois milhões e seiscentos
e cinquenta e dois mil euros.
Os
fundamentos, então apresentados, e que motivaram a aprovação dos dois Centros
Escolares na mesma freguesia eram resumidamente os seguintes:
- Lorvão – requalificação da actual escola, 4 salas –
investimento de 920.600 euros
Escola sede de freguesia, com 50 alunos no 1.º ciclo e escola de
acolhimento dos alunos das escolas de Caneiro, Rebordosa e Chelo, num total de
80 crianças.
- Aveleira – Nova construção, 4 salas de aula, com um
investimento de 1 731 400 euros.
Escola nova para os alunos de Aveleira e acolhimento dos alunos de Roxo e
S. Mamede, num total de 80.
Ora,
já em 2008, estes dados não corresponderiam à realidade. As escolas de Caneiro,
Rebordosa e Chelo há muito que encerraram e os alunos destas localidades são
transportados para Penacova.
Lorvão,
tem este ano lectivo apenas 25 alunos, e não 50 como se dizia em 2008. Destes
25, oito(8) estão no 4.º ano, e das 15 crianças que frequentam o
jardim-de-infância, apenas 1 tem idade para entrar no 1.º ciclo, em 2012-2013.
Ou
seja, o Estado e a Autarquia preparam-se para investir, agora mais de 1.500 mil
euros, numa escola que, seguindo as regras de encerramento de escolas com menos
de 20 alunos, estará fechada no ano que vem, e, na pior das hipóteses, nem
chegará a abrir, porque irá ter apenas 18 alunos.
Para
o Centro Escolar previsto para Aveleira, ficam 13 alunos do Roxo, 14 de S.
Mamede e 21 de Aveleira, num total de 48, a que podemos somar mais 17 da pré-escola
de Aveleira e 12 de S. Mamede. Com esta realidade fria dos números, facilmente
se percebe a necessidade que havia de alterar esta politica de investimentos e
a redefinição da rede escolar concelhia.
Um
das soluções, a curto prazo, poderia passar por anular a decisão de construir
na Aveleira, uma vez que Lorvão já está anunciado, e convencer as gentes de S.
Mamede, Aveleira e Roxo, a aceitar a deslocação das crianças para Lorvão. Esta
solução, no entanto, não será pacifica, porque é preciso não conhecer a
realidade social destas localidades, cujos pais trabalham, na sua esmagadora
maioria, em Coimbra, para pensar que facilmente deslocariam os seus filhos para
Lorvão, preferindo, como já hoje alguns fazem, levá-los para perto dos seus
locais de trabalho.
A
hipótese, também possível, e agora preconizada, de levar os alunos de S. Mamede
para Lorvão ficando a Aveleira junta com o Roxo, deixa apenas 2 turmas em cada
um dos lados. A ser assim, vamos construir 2 edifícios, com salas e restantes
estruturas para 4 turmas cada um, quando, na realidade, apenas temos alunos
para 2 turmas em cada uma das localidades.
Uma
outra solução, que me parecia mais ajustada à actual realidade do concelho, e
ao interesse das crianças e das famílias, era abandonar estes dois projectos e
construir um centro escolar que servisse as freguesias de Lorvão e de Figueira
de Lorvão, esta última, ainda com uma escola antiga, a precisar também de ser
substituída.
Este
novo edifício escolar, para 250
a 300 alunos, a construir algures na zona de Granja,
equidistante de Lorvão, do Roxo, ou de S. Mamede, mas também de Telhado ou da
Mata do Maxial, podia complementar, e/ou complementar-se, com algumas valências
da nova APPACDM, que está prevista para aquela zona, e poderia, aqui sim, ter
todas as condições educativas, sociais e desportivas, que hoje se preconizam
para escolas modernas de média dimensão. Uma boa rede de apoio e de transportes
facilitaria a vida, cada vez mais exigente, dos encarregados de educação.
Sei
bem os constrangimentos, até de ordem politica, que estão subjacentes a tudo
isto. Reconheço o mal-estar psicológico provocado pelo sentimento de perda que
estas questões suscitam no seio de cada uma das localidades envolvidas. Sei
muito bem o quanto trabalharam, num passado recente, por exemplo, os Pais de
Aveleira, para construir o refeitório do jardim-de-infância, ou os Pais do Roxo
para melhorar o seu edifício escolar.
Imagino
também, o quanto custará aos habitantes de Lorvão, sede de freguesia, perder a
identidade da sua Escola, depois de saber que poderão perder o Hospital
Psiquiátrico.
Sou
particularmente sensível a tudo isto. Fui Delegado escolar, no tempo em que o
concelho tinha 48 escolas primárias frequentadas por 1.600 alunos e vivenciei
muitos momentos de alegria protagonizados pelas escolas, em cada uma das
aldeias. Mas, infelizmente, sou obrigado a reconhecer, que hoje a realidade é
bem diferente, desde logo o número de alunos, que em 10 anos, caiu para menos
de metade.
É
também neste sentido, que defendo a adopção de medidas e de investimentos
compensatórios. Com alguma imaginação, a freguesia, e particularmente a Vila de
Lorvão, poderia ser compensada. Esta Vila, é conhecida pelo Mosteiro e pelos
magníficos pastéis. Mas Lorvão tem também, uma das melhores Filarmónicas da
região e uma escola de música que merece o maior carinho público, pelo trabalho
incomensurável de apoio às crianças e aos jovens de toda a freguesia.
Recordo-me
de há uns anos ter acompanhado, durante um dia, a Filarmónica Boa Vontade
Lorvanense a uma localidade de Aveiro para fazer a gravação de um CD,
exactamente porque a sua sede não tinha, e não tem, condições para o efeito.
Então, porque não fazer algo de diferente e remodelar as actuais instalações da
Escola Primária, transformando-a, na Sede da Filarmónica e na Casa da Música do
Concelho, dotada de condições de excepção.
Penacova
e a Filarmónica de Lorvão, poderiam assim, ter uma casa da música diferente e
potencialmente inovadora, atraindo a atenção de instituições congéneres. Por
outro lado, o Município apostaria em três centros/pólos educativos de
excelência, S. Pedro de Alva, Penacova e Lorvão/Figueira de Lorvão, que
tornassem o concelho conhecido pela evolução tecnológica da educação nas suas
vertentes educativas, sociais e de lazer, onde os pais reconhecessem, SOLUÇÕES
DIFERENTES, INOVADORAS E MODERNAS e sentissem que valia a pena matricular os
seus filhos, apelando assim, e também, à auto-estima Penacovense.
Num
tempo que se perspectiva difícil, e no cenário da crise em que vivemos, reitero
a necessidade de agir, proactiva e positivamente, procurando rentabilizar os
recursos existentes, com vista ao alcance de soluções diferentes e inovadoras,
onde a gestão deve assumir cada vez mais competências de liderança. É esta
liderança, que se exige aos responsáveis políticos, mesmo sabendo que em nenhum
contexto é possível agradar a todos.
No
artigo publicado neste mesmo Jornal em Outubro de 2010, expressei a minha opinião
acerca do local, na Eirinha, previsto para a construção do Tribunal de
Penacova, defendendo a alteração do projecto para o Largo Rainha D. Amélia.
Coincidência, ou não, o certo é que o Tribunal parece que vai mesmo para as
antigas escolas primárias de Penacova.
Pode
ser que desta vez volte a acertar. Estão em causa mais de três milhões de
euros, que na modesta opinião, livremente expressa, de um cidadão comum, deveriam
ser bem aproveitados. Destes três milhões, metade será “dado” pela comunidade
europeia, outra metade terá de sair dos cofres da Autarquia.
A ser
assim, parece que não aprendemos nada e também nesta matéria não prevenimos o
futuro.