quarta-feira, 31 de outubro de 2018

"TECER A PREVENÇÃO - Plano Local de Promoção e Proteção dos Direitos das Crianças e Jovens do Concelho de Penacova".




Confesso que o nome, só por si, me fascinou.Esta dimensão tão abrangente das palavras, a conceção de um trabalho diligente, tão dinâmico, paciente e acolhedor, como era a labuta das tecedeiras, trouxe-me à imaginação o aconchego das peças que teciam, dos fios que entrelaçavam, das teias protetoras que criavam, das camisolas quentinhas ou dos cobertores que me embalavam o sono. No fim de contas, era tudo aquilo que nos protegia.Estas foram algumas das palavras que escrevi, em Fevereiro de 2014, quando foi pela primeira vez proposto o projeto com este nome: “Tecer a Prevenção”Hoje, passados quase 5 anos, voltei a passear pelo tempo, o tempo que nos traz à memória as crianças mais desprotegidas, as que todos os dias precisam de uma tecedeira, uma artesã com mãos de ouro e um coração imenso, capaz de criar, abraçar e entrelaçar esta tarefa e incluir o talento e a capacidade de prever, de conhecer e sobretudo de agir.Hoje, na apresentação do trabalho final, não deixei de salientar isso mesmo, que este trabalho, também tão pacientemente elaborado, só terá valor, se verdadeiramente melhorar as condições de vida das crianças e jovens, que todos os dias continuam a precisar de uma “tecedeira”.


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

TRAGÉDIA - VERÃO 2017


 Texto escrito em 17 de Outubro de 2017
Cinco vidas ceifadas, 4 Bombeiros que necessitaram de deslocação aos HUC, 29 casas de primeira habitação destruídas, dezenas de animais, máquinas industriais, equipamentos fabris, armazéns, casas e ferramentas agrícolas, pomares, vinhas e olivais, e cerca de 10 mil de hectares de floresta queimada, é o balanço, ainda provisório, do terrível incêndio, o maior e mais destrutivo de que há memória no nosso concelho.
A dimensão e velocidade do fogo e a sua generalização pelo nosso distrito e por toda a região, impediu que todas as pessoas, todas as aldeias fossem protegidas como era suposto serem.
Temos consciência de tudo o que não se salvou e das perdas enormes para as famílias afetadas, e nem mesmo a noção do muito que, apesar de tudo, conseguimos salvar, apaga a nossa angústia e a sensação de que fomos muito poucos perante a dimensão assustadora da tragédia.
Ao longo de anos preparámo-nos para cenários adversos, adquirimos uma frota de veículos de socorro das melhores do nosso País, constituímos um grupo de Bombeiros Voluntários dos maiores e mais bem preparados a nível nacional e concebemos uma gestão sólida e eficaz.
Como nos competia, criámos nos Penacovenses uma sensação única de segurança e de conforto e habituámos todos a ter uma forte confiança nos seus Bombeiros. Parecia que não havia problema que não fossemos capazes de resolver. De um momento para o outro, a adversidade avassaladora da natureza coloca-nos perante cenários a que não conseguimos dar a resposta que a população, que tanto confiava, precisava.            
O mundo desmoronou-se, sobretudo para quem perdeu os familiares, para quem não há solução possível, mas para todos os que perderam os seus bens, as suas casas, o seu emprego ou a base da sua sustentabilidade. Mas também para nós, que jamais apagaremos da nossa memória, individual e coletiva, a sensação de impotência, a angústia infindável de não ter meios suficientes, de não ter comunicações, de não ter um qualquer dom sobrenatural que nos permitisse estar em todo o lado. Apesar de tudo, resta-nos a consciência de que demos tudo o que humanamente podíamos.
A dimensão e a violência do incêndio, não deixou margem para alternativas. Contámos apenas connosco, com o nosso Povo, que na generalidade compreendeu e nos colocou à disposição camiões cisterna, tratores, piscinas para abastecimento, motobombas, num movimento extraordinário de solidariedade e de partilha, que nunca esqueceremos.
É nas tragédias que muitas vezes reforçamos o conceito da dimensão da capacidade humana e intensificamos os laços de solidariedade. São estes laços e o sentimento tão forte de união, que não podemos deixar de realçar.