terça-feira, 1 de dezembro de 2015

AMOREIRA 2003 - TEMPO DE RECORDAR

Ontem foi tempo de recordar. Tal como escrevi em 10 de Abril passado, http://mais-vale-prevenir.blogspot.pt/2015_04_01_archive.html, foi em 9 de Agosto 2003, que em circunstâncias particularmente difíceis, conhecemos o Sr. Acácio Teixeira e o seu Pai, agora com 81 anos de idade, proprietários da famosa marca de calçado Seaside. Lavrava então um violento incêndio na Pampilhosa da Serra, bem próximo da Amoreira, sua terra natal. 
No final da tarde, desse longínquo sábado de Agosto, quando, já cansado, delineava a estratégia de combate com os Comandantes Carlos Luís e Fernando Jorge, surgiu-nos um Homem desconhecido, mas insistente, decidido e determinado. Foi talvez esta determinação que nos inspirou confiança, de tal forma que foi connosco, no velhinho Opel Frontera, de Miranda do Corvo, percorrer os caminhos daquela densa floresta de eucaliptos, que ardia por todos os lados. 
Foi este reconhecimento de caminhos, que permitiu motivar os Bombeiros, mudar a estratégia de abordagem ao incêndio e extingui-lo durante a noite, missão que até aí parecia quase impossível. Pela madrugada, quando fomos a casa do Pai do Sr. Acácio, nem Eles queriam acreditar. 
Foi aí, no meio de um cafézinho, que ficámos a saber que estávamos em casa de empresários de sucesso, mas também na companhia de Homens do povo, que apreciam o sentido comum da vida, que dão valor ao trabalho, à competência e à dedicação. Sem ter que o fazer, agradeceram-nos e reconheceram o trabalho dos Bombeiros, elogiaram o esforço “dos heróis”. 
Passados 12 anos não esqueceram. Em Abril passado, quando, por acaso, nos reencontrámos não reconheci o Sr. Acácio, quando me perguntou: “O Sr. é o Comandante Simões, que comandava as operações do incêndio da Amoreira em 2003? Claro que sim, respondi. Logo ali recordámos algumas passagens e combinámos então um encontro com os Comandantes que já referi e, naturalmente, com o então Comandante e hoje ilustre Presidente da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra.  
O encontro foi ontem, exactamente na localidade Amoreira, e lá está o mesmo largo junto à Capela e o famoso banco para onde subi, em 2003, e expliquei aos cerca de 60 Bombeiros a nossa estratégia e a vontade inabalável de tratar daquele incêndio que parecia não ter fim. 
Foi ontem, que mais uma vez senti a sorte que tenho em ter dedicado a minha vida a esta causa, que me permitiu e permite viver momentos únicos de solidariedade e de partilha, emoções vividas na primeira pessoa, amizades para a vida alicerçadas em contextos difíceis, com pessoas mais ou menos conhecidas, mas sobretudo com tantos e tantos Bombeiros que ainda ontem, emocionado, recordei. 
Ao Sr. Acácio Teixeira, à sua Mãe e ao seu Pai, que tão bem nos receberam, aos seus familiares e amigos que estiveram connosco, ao Sr. Presidente e Vice-Presidente da Câmara da Pampilhosa, ao Sr. Presidente da Junta de Freguesia da Amoreira, ao Comandante Marco Alegre, que fez questão de estar presente, expresso o meu, o nosso, mais sincero agradecimento. 
Em 10 de Abril escrevi: Sei que é muito difícil, mas ainda gostava de Vos voltar a reunir, um dia, no jardim da Amoreira e com a mesma voz de comando mandar, desta vez, sentar e saborear um almoço em casa do Sr. Acácio Teixeira. 
Uma parte está cumprida, o reconhecimento está feito, falta agora reunir, um dia qualquer, naquele recinto da Amoreira, todos os Bombeirosque, esses sim, foram os heróis dessa noite de 9 de Agosto de 2003. 


quarta-feira, 18 de novembro de 2015

NOVO TRAÇADO (OU NÃO) DO IP3

Com um tráfego rodoviário de cerca de 18 mil veículos/dia e uma elevada percentagem de veículos pesados, o atual eixo do IP3, está hoje entre as estradas mais movimentadas do nosso País e constitui um dos trajetos essenciais para o transporte de mercadorias para exportação.  
O IP3 e o IC6, conferem a Penacova uma centralidade ímpar no traçado rodoviário importantíssimo, Coimbra-Viseu-interior norte e a ligação privilegiada à A25, como porta de acesso a Espanha e à Europa, ao interior e ao litoral. 
Contrariamente a muitas outras vozes, tenho sempre defendido um reforço de investimento no atual traçado, transformando-o em perfil de autoestrada, em detrimento da construção de uma nova via alternativa, muito mais cara e portajada. 
Porém, as soluções, recentemente mais faladas, passam pela construção de uma estrada na margem esquerda do Mondego, que beneficie sobretudo os concelhos servidos pela Estrada da Beira, com os respetivos Autarcas a lutarem por esta opção, ou, então, pela chamada Via dos Duques, com ligação da A13 desde Vila Nova de Ceira ao IP3, aos nós de Coimbra e Souselas, e depois uma nova via a passar pela orla da Serra do Buçaco em direção à Aguieira sem ligação direta a Penacova. Esta é solução defendida pelos Autarcas a norte, que veem com bons olhos uma distância um pouco mais curta entre as cidades de Coimbra e Viseu.  
Penacova tem estado no meio deste jogo de interesses locais, e arrisca-se a ficar fora da discussão a assistir ao nascimento de uma nova via rápida, com o IP3 a transformar-se progressivamente numa estrada local, sem a importância estratégica que tem hoje, porventura, votada ainda mais ao abandono, com consequências necessariamente negativas para o concelho. 
Mas não é apenas por Penacova que defendo a manutenção e reconversão do atual traçado. A construção de uma nova autoestrada tem associados custos enormes, não só do ponto de vista financeiro, e não me digam que são investimentos privados porque já todos sabemos como isso funciona, mas também, e, sobretudo, do ponto de vista social e ambiental. 
A construção de uma nova estrada implica seguramente o esventrar de uma serra, de uma paisagem que deveríamos preservar, implica uma alteração profunda do ecossistema existente, e provoca inevitavelmente alterações sociais, sem que os ganhos de eficácia sejam assim tão significativos.  
Sou dos que defendo que não precisamos de mais autoestradas, precisamos, isso sim, de melhorar as que temos, adaptando-as progressivamente às novas realidades, sem onerar ainda mais as gerações futuras. 
Reitero o que escrevi em 15 de Fevereiro e 18 de Dezembro de 2014, e continuo a entender que Penacova, a sua população e os seus responsáveis, deviam, isso sim, defender, “com unhas e dentes”, não a construção de uma nova estrada, mas antes a requalificação da existente. Saúdo, por isso, a Associação dos Utentes e Sobreviventes do IP3, que se tem vindo a afirmar como movimento de reflexão e discussão pública e faço votos para que este movimento se multiplique e consiga, acima de qualquer ideologia, mobilizar os cidadãos. 

quinta-feira, 12 de novembro de 2015



A vida do dia-a-dia, a dignidade a que todos temos direito, a liberdade de circular, de pensar, de expressar sem medos, de trabalhar, de rir, de brincar, as diversas formas liberdade a que já nos habituámos e que tanto custou a construir, são valores fundamentais que em circunstância alguma podemos deixar fugir.
Sou dos que defendo estes princípios básicos de liberdade, alicerçados numa prática política centrada na moderação, como forma de resolução dos problemas da sociedade, num conceito de cidadania ativa, partilhada e democrática, sem ofensas e atropelos, num modelo de construção de vida que não imponha limites à liberdade, mas que balize qualquer forma de extremismo que a possa por em causa. É por isso, que tenho visto com alguma apreensão os acontecimentos recentes do nosso quotidiano.
Nos últimos tempos, temos assistido a uma radicalização da vida política, sobretudo através de uma verborreia, por vezes a roçar a ofensa e a má educação, por parte de alguns dos agentes políticos, que deveriam ser os primeiros a dar sinais e exemplos de tolerância, de convivência democrática aberta e saudável, de moderação e de bom senso.
As expressões faladas, as expressões dos rostos, dos gestos, dos olhares, dos tons, dos risos, mais ou menos sarcásticos, dos “à partes” que temos ouvido e visto nas discussões politicas na Casa da Democracia e nos órgãos de comunicação social, deixam transparecer sentimentos de radicalismo, de intolerância, de aversão e de repulsa, que há muito não víamos.
A democracia, como valor muito fundamental da construção da nossa convivência, deve servir sempre para unir esforços em torno do que é essencial para a sociedade e para os cidadãos e, apesar das diferenças, normais e necessárias, sobre os caminhos a percorrer nunca deve servir como fator de desestabilização, de incerteza e de insegurança.
A democracia traduz-se na liberdade de escolha entre várias propostas e soluções e, por isso mesmo, dela resulta sempre um poder efémero, limitado no tempo, condicionado a novas escolhas. Os que hoje ficam satisfeitos e exultam com as vitórias, amanhã ficarão descontentes e certamente sofrerão com as derrotas. É assim a democracia, sem dramas, sem preconceitos, sem tragédias.
Sou dos que penso, que em democracia a alegria e satisfação dos vitoriosos deve ser diretamente proporcional ao respeito e à consideração pelos derrotados.
Por tudo isto digo RADICALIZAÇÃO NÃO.

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

DO SONHO À REALIDADE......

Chove copiosamente, a manhã está fria, carregada dum cinzento escuro quase arrepiante, que cobre por completo o céu.

Na estrada, ouço o intenso chapinhar dos carros e o frenético rodar dos pneus. Aqui e ali, o som estridente das buzinas anuncia falta de paciência e nem mesmo a forte pressão dos lençóis, feitos de água acumulada, é condição suficiente para me alertar para os perigos da condução.
No conforto do ar condicionado, mudo de estação sempre que nos intervalos da música o rádio dá informações sobre as dificuldades do trânsito e os acidentes que vão acontecendo um pouco por todo o lado.
Olho para o relógio, o tempo voa e já não suporto a lentidão dos camiões que circulam à minha frente. Está na hora de enviar uma mensagem a dizer que estou atrasado. Escrevo apressado, um olho no vidro da frente, outro no telemóvel, outro no retrovisor, não vá a polícia querer fazer das suas.
Não ouço a música, não vejo os camiões, não me incomoda o barulho constante do limpa para-brisas. Já só penso que deveria ter saído mais cedo, que o cliente não espera, que o negócio fica adiado ou perdido definitivamente.
Não, não posso perder esta oportunidade. Tenho que andar depressa. É uma reunião demasiado importante.
Piso no acelerador.
O perigo espreita a cada curva, a cada ultrapassagem,  em cada afunilamento da via. A distância de segurança que me separa do veículo da frente é tão pequena como a diferença entre a vida e a morte, entre chegar ao destino ou ficar encarcerado, entre tomar o pequeno almoço na mais doce pastelaria ou em qualquer urgência hospitalar.
De repente um barulho ensurdecedor, o céu fica virado ao contrário, o cinzento escuro arrepiante aterroriza-me.
Acordei. Afinal era um sonho, a realidade é que a chuva cai assustadoramente.