Chove copiosamente, a manhã está
fria, carregada dum cinzento escuro quase arrepiante, que cobre por completo o
céu.
Na estrada, ouço o intenso chapinhar
dos carros e o frenético rodar dos pneus. Aqui e ali, o som estridente das
buzinas anuncia falta de paciência e nem mesmo a forte pressão dos lençóis,
feitos de água acumulada, é condição suficiente para me alertar para os perigos
da condução.
No conforto do ar condicionado, mudo
de estação sempre que nos intervalos da música o rádio dá informações sobre as
dificuldades do trânsito e os acidentes que vão acontecendo um pouco por todo o
lado.
Olho para o
relógio, o tempo voa e já não suporto a lentidão dos camiões que circulam à
minha frente. Está na hora de enviar uma mensagem a dizer que estou atrasado.
Escrevo apressado, um olho no vidro da frente, outro no telemóvel, outro no
retrovisor, não vá a polícia querer fazer das suas.
Não ouço a
música, não vejo os camiões, não me incomoda o barulho constante do limpa
para-brisas. Já só penso que deveria ter saído mais cedo, que o cliente não
espera, que o negócio fica adiado ou perdido definitivamente.
Não, não posso
perder esta oportunidade. Tenho que andar depressa. É uma reunião demasiado
importante.
Piso no
acelerador.
O perigo
espreita a cada curva, a cada ultrapassagem, em cada afunilamento da via.
A distância de segurança que me separa do veículo da frente é tão pequena como
a diferença entre a vida e a morte, entre chegar ao destino ou ficar
encarcerado, entre tomar o pequeno almoço na mais doce pastelaria ou em
qualquer urgência hospitalar.
De repente um
barulho ensurdecedor, o céu fica virado ao contrário, o cinzento escuro
arrepiante aterroriza-me.
Acordei. Afinal
era um sonho, a realidade é que a chuva cai assustadoramente.