O discurso
político é hoje tão estéril e incoerente que roça os limites da irracionalidade.
Talvez por
isso já não haja paciência para ouvir tantos disparates, tantas promessas
vazias, tantas frases sem sentido e repetidas até à exaustão, como se eles, os
senhores dos microfones e dos holofotes não fossem, eles mesmo, os mesmos de
sempre que nos fizeram também sempre acreditar nesta Europa forte e solidária,
para a qual agora somos, mais uma vez, chamados a votar.
Não, não sou
antieuropeu. Estou convicto, que para os países que atualmente integram a União
Europeia, a estabilidade e a democracia em toda a Europa Central e Oriental trouxeram,
em muitos aspetos, mais prosperidade, mais e melhores equipamentos, mais autoestradas,
mais conhecimento, mais segurança. Pagámos, no entanto, um preço demasiado
elevado. A falta de vontade política, a ausência de lideranças crediveis, as
dificuldades nos processos de decisão e a supremacia do capital realtivamente à
política, descredibilizaram o projeto europeu e mais do que isso, conseguiram
esbulhar algumas das maiores riquezas dos cidadãos e aumentar as assimetrias,
quando a génese do projeto era exatamente o contrário.
Lembro-me, e
vem isto a propósito do meu pensamento de hoje, que talvez há cerca de cinco
seis anos, quando se começou a falar de crise, abriram em cada esquina, em cada
rua, em cada centro comercial, as lojas de compra de ouro em segunda mão.
Letras apelativas propagavam a aquisição de objetos de valor e recordo-me mesmo
de ver nas ruas mais movimentadas das cidades, homens com cartazes pendurados
ao pescoço, chamando a atenção para a venda fácil de tudo quanto as pessoas e
os seus antepassados tinham guardado ao longo de muitos anos e com tanto sacrifício.
Claro que
eles, esses mesmos de sempre, sabiam que Portugal, esse Portugal profundo e
pobre, era simultaneamente muito rico em ouro guardado e passado de geração em
geração. Era preciso empobrecer ainda mais para obrigar a vender, de preferência
ao desbarato, todo este valioso património.
Foi isso que
alegadamente fizeram. Hoje, talvez porque já pouco resta, todas essas lojas fecharam.
Fizeram o seu tabalho. Levaram-nos tudo, os valores, as jóias, os anéis.
Sim,
levaram-nos os anéis e deixaram-nos os dedos, porque precisam deles para que
possamos continuar a votar e a legitimar....os mesmos de sempre.