Não. O título não é meu. “Tecer a Prevenção” é o nome de um
projeto, proposto pela Comissão Nacional de Proteção de Crianças e Jovens em
Risco às CPCJ concelhias, com o objetivo de dinamizar as Instituições e a sociedade
civil e, de alguma forma, mudar o modelo de influência e abraçar um novo
paradigma centrado na prevenção, neste caso particular, na intervenção precoce
junto das crianças e dos jovens.
Há poucos dias, a convite da CPCJ de Penacova, tive o privilégio de participar numa reunião
de trabalho com a presença do Presidente da CPCJ Nacional, onde foi apresentado
o projeto “tecer a prevenção". Confesso que o nome, só por si, me
fascinou.
Esta dimensão tão abrangente das palavras, esta ideia de um
trabalho diligente, mas ao mesmo tão dinâmico, paciente e acolhedor, como era a
labuta das tecedeiras, trouxe-me à imaginação o aconchego das peças que teciam,
dos fios que entrelaçavam, das teias protetoras que faziam, das camisolas
quentinhas ou dos cobertores que me embalavam o sono. No fim de contas era tudo
aquilo que nos protegia e prevenia do frio.
Ao ouvir o Juiz Conselheiro Armando Leandro, passeei pelo tempo, o
tempo que nos traz à memória as crianças mais desprotegidas, as que todos os
dias precisam de uma tecedeira, uma artesã com mãos de ouro e um coração imenso,
capaz de abraçar e entrelaçar esta tarefa e incluir o talento e a capacidade de
prever e prevenir os acontecimentos.
Mas este projeto levou-me também a refletir, a olhar ainda mais
longe, sobre a dimensão da prevenção e da sua transversalidade.
Há em cada um de nós e na sociedade um espaço incomensurável para
que a prevenção cresça, mas tem que ser uma prevenção com sentido, útil e
necessária, que custe, mas que se traduza em resultados práticos. Uma prevenção
que possa ser aprendida e multiplicada, que comece nas escolas, mas também que
seja objeto de exemplo dado pelos mais experientes e responsáveis.
Efetivamente a prevenção é, ou poderia ser, a chave do sucesso
para muitos dos problemas que nos afetam e que condicionam o dia a dia das
pessoas, das instituições e da sociedade. Na saúde, na educação, na proteção
civil, na segurança, no trabalho ou na infância e na juventude… como tudo
poderia ser diferente se tivéssemos essa capacidade, esse engenho e arte para
prevenir ao invés de remediar e “correr sempre atrás do prejuízo”.
Neste início do ano de 2014, com tantos constrangimentos, no
domínio da proteção civil e da proteção dos mais vulneráveis, aprendamos a pensar e a tecer a prevenção e
não apenas a repetir lugares comuns ou velhas fórmulas, que há muito estão
desgastadas.
No próximo dia 1 de Março, dia em que entrou em vigor a Constituição da Organização Internacional de Proteção Civil –
OIPC, também conhecida pela sigla anglo-saxónica ICDO (International Civil Defence Organisation), com sede em
Genebra, comemora-se o Dia Mundial da Proteção Civil. Neste dia, cada um de
nós, individual ou coletivamente, pode fazer alguma coisa que contribua para
esta mudança de paradigma.