A vida do dia-a-dia, a dignidade a
que todos temos direito, a liberdade de circular, de pensar, de expressar sem
medos, de trabalhar, de rir, de brincar, as diversas formas liberdade a que já
nos habituámos e que tanto custou a construir, são valores fundamentais que em
circunstância alguma podemos deixar fugir.
Sou dos que defendo estes princípios
básicos de liberdade, alicerçados numa prática política centrada na moderação,
como forma de resolução dos problemas da sociedade, num conceito de cidadania
ativa, partilhada e democrática, sem ofensas e atropelos, num modelo de
construção de vida que não imponha limites à liberdade, mas que balize qualquer
forma de extremismo que a possa por em causa. É por isso, que tenho visto com
alguma apreensão os acontecimentos recentes do nosso quotidiano.
Nos últimos tempos, temos assistido a
uma radicalização da vida política, sobretudo através de uma verborreia, por
vezes a roçar a ofensa e a má educação, por parte de alguns dos agentes
políticos, que deveriam ser os primeiros a dar sinais e exemplos de tolerância,
de convivência democrática aberta e saudável, de moderação e de bom senso.
As expressões faladas, as expressões
dos rostos, dos gestos, dos olhares, dos tons, dos risos, mais ou menos
sarcásticos, dos “à partes” que temos ouvido e visto nas discussões politicas
na Casa da Democracia e nos órgãos de comunicação social, deixam transparecer
sentimentos de radicalismo, de intolerância, de aversão e de repulsa, que há
muito não víamos.
A democracia, como valor muito
fundamental da construção da nossa convivência, deve servir sempre para unir
esforços em torno do que é essencial para a sociedade e para os cidadãos e,
apesar das diferenças, normais e necessárias, sobre os caminhos a percorrer
nunca deve servir como fator de desestabilização, de incerteza e de
insegurança.
A democracia traduz-se na liberdade
de escolha entre várias propostas e soluções e, por isso mesmo, dela resulta
sempre um poder efémero, limitado no tempo, condicionado a novas escolhas. Os
que hoje ficam satisfeitos e exultam com as vitórias, amanhã ficarão
descontentes e certamente sofrerão com as derrotas. É assim a democracia, sem
dramas, sem preconceitos, sem tragédias.
Sou dos que penso, que em democracia
a alegria e satisfação dos vitoriosos deve ser diretamente proporcional ao
respeito e à consideração pelos derrotados.
Por tudo isto digo RADICALIZAÇÃO NÃO.