sexta-feira, 10 de agosto de 2012

MOMENTOS DE DOR…E DE REFLEXÃO

Podíamos chamar “momentos de dor…e de reflexão, parte II, parte III, IV, etc”. Estes são os momentos que se repetem, que se renovam, que se redizem, diria mesmo que se repisam ano após ano.
Todos, mas todos os anos mesmo, ficamos a lamentar a perda de vidas humanas na sequência dos incêndios florestais que assolam o nosso pequeno País, que saciam a curiosidade mórbida de uns quantos, enchem páginas de jornais, são primeira noticia dos canais de televisão, movimentam milhões aos mais diversos níveis da sociedade. Agitam a politica, e a segurança em sentido lato.
Bombeiros, policias, jornalistas, grupos económicos diversos e diversificados e o cidadão comum, que de uma ou outra forma, directa ou indirectamente, se vê, se vêem confrontados, envolvidos, atingidos e alguns cercados e definitivamente fechados nesta “teia” que parece não ter fim.
Na realidade percepcionada pela sociedade e por quem a condiciona, o fim é já daqui a um mês com o final do Verão, mas, na verdade, esta complexidade tamanha, não apenas se prolonga continuamente por gerações, como se agrava a cada momento que passa, tornando cada vez mais doloroso o instante seguinte, sobretudo para aqueles que têm a responsabilidade primeira de intervenção operacional e, por isso mesmo, são colocados no centro dos problemas e da atenção mediática.
É porventura também este mediatismo exacerbado, levado ao mais alto nível da sensibilidade humana, explorando e expondo cenários de descontrolo, aflição e de pânico, que nos envolve a todos numa pressão contínua, quantas vezes numa angústia permanente, que nem sempre é boa conselheira.
Findo este prazo, parece que tudo volta à normalidade. Os momentos de dor…e de reflexão, esses perduram apenas num grupo restrito de familiares e amigos. Não se fala mais nisto, não há prevenção, não há limpeza, a desertificação do interior acentua-se, os campos de cultivo degradam-se ou desaparecem, as nossas aldeias, (ou o que vai restando delas) ficam cada vez mais rodeadas pela floresta.
Os Bombeiros esbatem-se no imaginário colectivo, apenas até um dia.

Comdt. António Simões