Em
representação dos Bombeiros do Distrito de Coimbra, participei ontem, com mais
14 Bombeiros do distrito, nas exéquias
que marcaram o último adeus ao Companheiro António Ferreira, Bombeiro em
Miranda do Douro, que, aos 45 anos de idade, foi apanhado pelo fogo que ajudava
a combater.
Foi
uma das maiores manifestações de pesar a que assisti em toda a minha vida, tal
era a dimensão da massa humana ali presente. Autoridades Oficiais, Companheiros
de oficio, mas, sobretudo, tanta e tanta gente anónima. Parece que toda aquela
zona Mirandesa se despovoou para prestar a derradeira homenagem, a um homem,
cidadão Bombeiro, filho da terra, certamente conhecido e reconhecido por todos.
Por
mais eloquentes que fossem as minhas palavras, jamais elas conseguiriram
transmitir aqueles momentos de dor, de pesar, porventura de tantos sentimentos
contraditórios, mas também de envolvimento e de união, e concerteza até de
revolta pelas circunstãncias tão trágicas em que tudo aconteceu. Tudo parecia
deslumbramento diante dessa louca magia que nos envolve no momento da
separação.
Era
preciso estar lá para sentir tudo isto. Para sentir que somos pequeninos, para
sentir o nó na garganta, o formigueiro e as mãos geladas. Para sentir, que é
nestes momentos de agonia e de reflexão, que somos capazes de compreender a
profundidade dos sentimentos.
Valeu
a pena ter ido, não para cumprir uma obrigação institucional. Não, isso pouco
ou nada representa. Valeu a pena sim, para testemunhar a estatura de um Homem,
a dimensão de uma Instituição a que pertencia, o carinho, o reconhecimento e o
respeito.
Mas
valeu a pena também, para mais uma vez poder refletir sobre esta verdadeira tragédia
da perda de vidas humanas nesta luta cada vez mais desigual, neste combate sem
tréguas aos incêndios florestais. Há um ano, por ocasião da tragédia de Coja,
escrevi, “que nenhum pinheiro ou
eucalipto, ou porventura a floresta mais importante, valem o sacrificio da
própria vida”. Renovo este pensamento, para que possamos estar cada dia
mais atentos às dificuldades que nos envolvem, a todos, nesta tarefa gigantesca
da defesa do nosso património florestal.
Nesta
época de Verão, e num momento de maior dificuldade para a sociedade em geral, em
que os Bombeiros são chamados cada vez mais a dar o seu contributo, em
particular aos que mais sofrem, espero bem que o sacrificio dos Nossos
Companheiros que partem, sirva de exemplo e seja, este sim, um verdadeiro
motivo de reflexão para garantir uma maior segurança às Mulheres e Homens, a
maior parte em regime de total voluntariado, que se dedicam de alma e coração
às tarefas do socorro e da emergência.