quarta-feira, 7 de agosto de 2013

REFLEXÃO


Em representação dos Bombeiros do Distrito de Coimbra, participei ontem, com mais 14 Bombeiros do distrito,  nas exéquias que marcaram o último adeus ao Companheiro António Ferreira, Bombeiro em Miranda do Douro, que, aos 45 anos de idade, foi apanhado pelo fogo que ajudava a combater.

Foi uma das maiores manifestações de pesar a que assisti em toda a minha vida, tal era a dimensão da massa humana ali presente. Autoridades Oficiais, Companheiros de oficio, mas, sobretudo, tanta e tanta gente anónima. Parece que toda aquela zona Mirandesa se despovoou para prestar a derradeira homenagem, a um homem, cidadão Bombeiro, filho da terra, certamente conhecido e reconhecido por todos.

Por mais eloquentes que fossem as minhas palavras, jamais elas conseguiriram transmitir aqueles momentos de dor, de pesar, porventura de tantos sentimentos contraditórios, mas também de envolvimento e de união, e concerteza até de revolta pelas circunstãncias tão trágicas em que tudo aconteceu. Tudo parecia deslumbramento diante dessa louca magia que nos envolve no momento da separação.

Era preciso estar lá para sentir tudo isto. Para sentir que somos pequeninos, para sentir o nó na garganta, o formigueiro e as mãos geladas. Para sentir, que é nestes momentos de agonia e de reflexão, que somos capazes de compreender a profundidade dos sentimentos.

Valeu a pena ter ido, não para cumprir uma obrigação institucional. Não, isso pouco ou nada representa. Valeu a pena sim, para testemunhar a estatura de um Homem, a dimensão de uma Instituição a que pertencia, o carinho, o reconhecimento e o respeito.

Mas valeu a pena também, para mais uma vez poder refletir sobre esta verdadeira tragédia da perda de vidas humanas nesta luta cada vez mais desigual, neste combate sem tréguas aos incêndios florestais. Há um ano, por ocasião da tragédia de Coja, escrevi, “que nenhum pinheiro ou eucalipto, ou porventura a floresta mais importante, valem o sacrificio da própria vida”. Renovo este pensamento, para que possamos estar cada dia mais atentos às dificuldades que nos envolvem, a todos, nesta tarefa gigantesca da defesa do nosso património florestal.

Nesta época de Verão, e num momento de maior dificuldade para a sociedade em geral, em que os Bombeiros são chamados cada vez mais a dar o seu contributo, em particular aos que mais sofrem, espero bem que o sacrificio dos Nossos Companheiros que partem, sirva de exemplo e seja, este sim, um verdadeiro motivo de reflexão para garantir uma maior segurança às Mulheres e Homens, a maior parte em regime de total voluntariado, que se dedicam de alma e coração às tarefas do socorro e da emergência.

Cmdt. António Simões